quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Anfiteatro 2



O Anfiteatro 2 não tem janelas. O Anfiteatro 2 tem três portas. O Anfiteatro 2 tem dois quadros de ardósia, um professor com pó de giz na mão, alunos com os cérebros entorpecidos e o expoente máximo da iluminação de halogéneo. Um jogo de futebol à noite consegue ver-se na perfeição, dada a potente capacidade iluminante dos holofotes. Porém, ver um jogo de futebol à noite não é o mesmo do que ver um jogo de futebol durante o dia. O Anfiteatro 2 até é bem iluminado, mas não há luz como a do Sol, mesmo que seja de noite... Não há luz como a que temos nas ruas. O Anfiteatro 2 tem cadeiras com tábuas de escrita cravejadas com rabiscos, desenhos, insultos, gatafunhos e outras diarreias cerebrais, provavelmente resultantes da claustrofobia crónica dos estudantes que lá se sentam. Os alunos dentro do Anfiteatro 2 são girassóis que começam a murchar devido à falta de luz da nossa estrela mais preciosa. Todas as vozes e sons que se ouvem no Anfiteatro 2 parecem monocórdicos e assemelham-se a rezas hipnotizantes, deixando-nos num estado de quase transe. Tudo o que se passa no Anfiteatro 2 provoca uma sensação bafienta. O Anfiteatro 2 parece um búnquer da Segunda Guerra Mundial. Lá, só consigo associar as aulas a acções de formação militar secretas dadas no subsolo, no sítio mais recôndito que se possa imaginar. Dentro do Anfiteatro 2 sinto-me como um mineiro, prestes a contrair silicose, que arrisca a sua vida para descobrir filões de minerais em galerias e túneis desconhecidos. Os ácaros são, certamente, bichos felizes no Anfiteatro 2, dada a ausência asfixiante do brilho solar. No Anfiteatro 2, as palavras do professor soam-me a uma missa cantada no gregoriano mais arcaico pelo sacerdote mais entediante que possam imaginar. O Anfiteatro 2 parece o esconderijo onde Saddam Hussein foi encontrado, em 2003. Mas ainda pior. O Anfiteatro 2 alberga a nossa presença todas as quartas-feiras durante quatro horas e transforma-nos em toupeiras. Até mesmo a cegueira se verifica, já que só nos resta a vontade de fechar os olhos e adormecer. Não gosto do Anfiteatro 2. Morte ao Anfiteatro 2. Pim!

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