terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ainda as presidenciais

Estive um pouco arredado da pré-campanha e campanha eleitoral das recentes Presidenciais, que reelegeram Aníbal Cavaco Silva como Chefe de Estado da República Portuguesa. Depois de Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio, o eleitorado tomou a opção da continuidade. Assim, o primeiro Presidente de direita também estará, previsivelmente, dez anos em Belém.

Mas se estive mais afastado do que aquilo que é costume, foi por opção própria e não por falta de informação sobre as candidaturas. Por um lado, houve o Cavaco da continuidade, unindo, aparentemente, a direita e conseguindo até apoiantes na esquerda. Do outro lado houve a divisão total, à semelhança do que aconteceu em 2006. Manuel Alegre desta vez conseguiu o apoio do "seu" PS e também do BE. O PCP, como era esperado, apresentou um candidato próprio, que conseguiu surpreender muitos. Fernando Nobre invocou a candidatura da verdadeira cidadania, independente de partidos e conseguiu um resultado mais positivo do que se chegou a prever. Defensor Moura, saído das fileiras do PS, também avançou sem qualquer apoio partidário e foi o menos votado dos candidatos outsiders. Por último, e proveniente da Madeira, apareceu José Manuel Coelho, com uma campanha diferente daquilo que habitual, obtendo um resultado surpreendente na Madeira e no geral das eleições, o que pode ter deixado Alberto João Jardim a pensar.

A minha rápida análise de cada resultado, por ordem decrescente de percentagem:


Abstenção - a grande vencedora da noite. Para uns é um voto de protesto, para outros é rotina. Contudo, nestas eleições, houve abstenção forçada resultante da confusão existente com o Cartão de Cidadão e com o Cartão de Eleitor. Falta de informação e várias imprecisões que poderiam ter sido esclarecidas e mais combatidas desde o lançamento do CC. É lamentável que em pleno século XXI, a caminho do 101.º aniversário da República e passados quase 37 anos da Revolução de 1974 haja pessoas que não podem exercer o seu direito de voto por falhas graves no sistema. Seria motivo para repetir as eleições? Talvez, mas isso nunca será uma realidade.

Cavaco Silva - vitória esperada, mas, e à semelhança de 2006, abaixo do que as sondagens ditaram. Uma figura que convive mal com a crítica e que é, ainda que possa não parecer, o "político mais político" de Portugal, desde que foi/veio à Figueira da Foz fazer a rodagem do seu Citröen. Refere-se aos políticos como a "classe política", mas parece esquecer-se de que também faz parte dela. Foi um candidato que não fugiu ao que era esperado. Teve um discurso de vitória, a meu ver, completamente errado, rancoroso e frio. Do meu ponto de vista, Portugal e os portugueses precisavam de mais ânimo, esperança e estímulo. Continuaremos com a "cooperação estratégica" Cavaco-Sócrates.

Manuel Alegre - provavelmente um erro de escolha do PS, mas sendo a candidatura presidencial uma manifestação pessoal, mais ninguém se chegou, aparentemente, à frente para enfrentar,de uma forma eficaz ,a Cavaco Silva. Foi uma figura mais gasta, mais contida, apoiada por dois partidos que nos habituaram às suas divergências e conflitos. Assumiu a derrota com dignidade, mas julgo que devia ter assumido que não  era certo candidatar-se novamente.

Fernando Nobre - o conhecido fundador da AMI aventurou-se nas andanças políticas, chamando a si a pura cidadania e reclamando que Portugal devia ser arrojado e não ter medo de escolher um presidente que nunca esteve ligado a partidos. Teve um resultado bastante positivo, que poderá ter aberto as portas a futuros candidatos totalmente independentes. No seu discurso julgo que se notou que estudou as temáticas necessárias para ser candidato, mas também considero que muitas vezes algumas ideias e expressões pareceram repetitivas. A sua expressão oratória não pode ser considerada como a melhor (nem a de Cavaco Silva), mas foi um dos candidatos que fez com que as Presidenciais 2011 não fossem, no seu todo, mais do mesmo.

Francisco Lopes - mais uma figura comunista que ganha projecção numa corrida a Belém. Foi uma surpresa para muitos, ainda que tenha tido menos votos do que Jerónimo de Sousa em 2006. Uma vez mais o rosto do ideal comunista, será, provavelmente, uma aposta de futuro do seu partido para mais altos voos na AR e na liderança do PCP.

José Manuel Coelho - A pedrada no charco destas eleições. O candidato madeirense que desafia Alberto João Jardim e que é protagonista de vários episódios caricatos e pouco ortodoxos na Madeira e, agora, na sua campanha. O "Coelhinho" foi o único candidato que falou concreta e abertamente da corrupção, andou um pouco por todo o lado a espalhar a sua oratória com acentuada pronúncia madeirense e protagonizou alguns dos momentos mais humorísticos destas eleições. Teve um resultado estrondoso no seu arquipélago e ainda não se percebeu, pelo menos no Continente, se fala muito e faz pouco, ou se fala muito e também faz muito.

Votos brancos - Se fossem contabilizados deixariam a vitória de Cavaco Silva à primeira volta comprometida. Cresceram de uma forma acentuadíssima em relação a 2006 (o número de votos mais que triplicou) e são o voto expresso que muitos portugueses não estão satisfeitos. Acredito que se estes votos contassem, haveria mesmo uma segunda volta e uma grande manifestação de desagrado, havendo redução da abstenção.

Votos nulos - Podem ser assim considerados pelas mais variadas razões e o seu número também aumentou de forma muito assinalável em relação a 2006 (o dobro, sensivelmente). Não considero que devam ser contabilizados para efeitos de resultados eleitorais mas também revelam o sentimento de muitos eleitores. Não esqueçamos também as pessoas que pensam que votaram validamente mas acabam por ter o seu voto considerado como nulo (ainda há registos vivos de pessoas que acham que devem assinar o seu voto).

Defensor Moura - Defendeu-se como pôde nestas eleições e até conseguiu um resultado elevado, tendo em conta a comparação com Garcia pereira (o menos votado em 2006). Tendo uma figura simpática, procurou alimentar o sonho de uma maior percentagem, mas não trouxe muito de novo ao panorama eleitoral.



segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cronicamente Circunvagante - "Danças e Favas"

Recordando uma crónica escrita em meados de Novembro de 2010 sobre a actualidade da altura. Orçamento de Estado, pré-campanha de Cavaco Silva, Manuel Alegre e Fernando Nobre e também declarações do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado. Eis "Danças e Favas".

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Exmos. Srs. do Partido Socialista e do Partido Social Democrata

Então afinal o Orçamento vai ser aprovado? Tantos à espera que a divergência fosse a sério e fazem uma destas?

Bem dizia Sócrates que ia dançar o tango com Passos Coelho. Como se sabe, essa dança sul-americana baseia-se na aproximação e afastamento bruscos dos dançarinos. Tão depressa quase se beijam como, num ápice, se afastam. E tem sido assim esta dança do primeiro-ministro com o líder do PSD.
Num ritual de sedução, ou não fossem eles duas figuras tão preocupadas com a imagem, só os portugues não ficaram seduzidos. Resta saber quem é o homem e a mulher, porque, de resto, o par é perfeito.

“Corta aqui”, “poupa ali”, mas depois “esbanja acolá”, a situação financeira portuguesa não está famosa.
Falando em danças, o ministro socialista Teixeira dos Santos e o ex-ministro laranja Eduardo Catroga parece que dançaram um slow enquanto negociaram um documento que ficou praticamente na mesma. A pasta das Finanças nunca foi fácil de gerir e quantos mais tentam pegar-lhe, pior o cenário fica. No que toca a isso, o prefixo “ex“ é, aparentemente, miraculoso. Um ministro de algo que passe a ser ex-ministro de algo ganha logo um reconhecimento enorme. Umas vezes, pelo alívio de já lá não estar, mas outras porque foi o “melhor ministro de sempre”.

Disso é exemplo Cavaco Silva, que também anda por estes dias a dançar em todos os sítios que pode, pois Janeiro aproxima-se a passos largos. Já Manuel Alegre, esse sim, tem que bailar o “corridinho” e ter jogo de cintura a dobrar, pois presta contas a socialistas e bloquistas. Pelo meio, acusa Cavaco de ser um “gestor de silêncios”. O ainda Presidente da República não respondeu à provocação. Só não se sabe se não o fez por opção ou se por ter na boca uma fatia de bolo típico do Natal. E já que estamos numa de bolo rei, é sempre ao povo que calha a fava. É precisa mais receita? É preciso colmatar as falhas de quem (des)governa? O povo paga!

Aqui entra Fernando Nobre, que chama a si os valores da verdadeira cidadania e a virtude de não ter os vícios de “politiquice” dos partidos. Enquanto Nobre reclama um lugar no panorama político nacional, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, alerta que o país precisa de um governo de coligação e coloca o seu lugar à disposição caso isso seja o melhor para Portugal. Com isto, Amado passa a ser, para alguns, mal-Amado.

Para aqueles a quem, provavelmente, nunca calhou a fava.

Uma semana na Tunísia pré-Revolução do Jasmim 02

A viagem até Hergla decorreu com normalidade. Ao chegar, notou-se logo a assimetria entre o ambiente urbano de Tunis e os aspectos mais "atrasados" de Hergla. Ainda assim, registo para um Centro Cultural digno de visita, as árvores perfeitamente talhadas em forma de paralelepípedo (uma sombra deleitosa quando o Sol era mais forte) e também o grande número de lojas dos mais variados tipos.
Mais uma vez, a grande quantidade de fotografias de Ben Ali, os automóveis de marca francesa e o número incrivelmente grande de mobilettes nas ruas. Não pode ser esquecido o azul cristalino do Mediterrâneo constantemente a chamar por uns mergulhos.

Bebidas alcoólicas nem vê-las! Muito chá verde com hortelã ou menta, Coca Cola, Fanta ou água é o mais comum. Pagar a Fanta e a garrafa de vidro quando se quer ficar com ela também é, ao que parece, comum. Papel higiénico na casa-de-banho só após pedido especial, já que o processo habitual é a mangueirinha colocada ao lado das sanitas.

Depois, a primeira refeição. Algumas iguarias típicas da Tunísia, o pão típico da Tunísia, a mistela picante típica da Tunísia, o atum em todo o lado e também (infelizmente para mim) o pepino em todo o lado. Já agora, algo como "mane hábiche faque uce" significa "não gosto de pepino".

Também foi importante conhecer o dono da casa onde ficámos instalados: o "Aladino". Segundo ele, era o verdadeiro Casanova de Hergla, qual D. Juan tunisino. Completamente ocidental, viciado em hip-hop americano, tinha o desejo de ir viver para os EUA mas não conseguia obter o visto para se mudar. Era o primeiro a admitir que "ainda não estava preparado para ser um bom muçulmano, porque gosta de beber, não gosta de rezar e sai com várias raparigas". Mas 50 Cent, Snoop Dog ou Eminem eram a especialidade dele, para além de toda música árabe que ele ouvia (intragável para os meus ouvidos, diga-se). Aladino era um dos muitos jovens tunisinos que queria mais democracia, nomeadamente na Internet, onde o acesso a sites como o YouTube estava barrado. Ainda assim, havia sempre forma de contornar esse impedimento e visualizar os vídeos online não tinha grande dificuldade.

Uma Semana na Tunísia pré-Revolução do Jasmim 01

O primeiro episódio da viagem para a Tunísia ocorreu ainda no Aeroporto da Portela, quando houve um encontro e conversa com o deputado e presidente do CDS-PP, Paulo Portas, que também viajaria para terras tunisinas e que fez questão de contar alguns episódios das suas frequentes viagens até ao dito país norte-africano. E logo aqui se nota o que pensa Paulo Portas sobre o apelo de Cavaco Silva para que os portugueses passem férias em solo português [feito em Junho de 2005].

A viagem decorreu sem sobressalto na companhia aérea Tunisair. O processo de entrada oficial no país foi moroso dada a burocracia de carimbagem do passaporte, acto encarado com extremo mau humor e desconfiança por parte da generalidade dos oficiais fronteiriços. As questões "quem são vocês e o que fazem aqui assim vestidos?" [não esquecer o traje académico em pleno Agosto num país africano] eram inevitáveis.

Depois a passagem pela casa de câmbio em que o conceito "fila" em tunisino não parecia existir. Também a sensação de ser o centro das atenções por vestir um fato preto estranho com uma capa ao ombro e ter Euros para trocar. Também a sensação de olhar para a maioria das pessoas locais e ver os trajes tipicamente árabes.

Seguia-se o primeiro contacto com um espaço exterior africano e o com o "bafo" estival da África Mediterrânica. A viagem de mini-bus desde o Aeroporto de Tunis-Cartago até Hergla, com passagem por alguns locais da cidade de Tunis, as centenas de fotografias de Ben Ali espalhadas por todo o lado, o primeiro contacto com os jovens tunisinos que nos acompanhavam na viagem. A percepção de pobreza, classe "média" e riqueza e todos os contrastes sociais, nomeadamente nos edifícios. Os indícios de ocidentalização em termos de marcas e publicidade, a predominância de carros de marca francesa, a audição de francês e árabe na mesma medida e a alternância entre as duas línguas numa mesma conversa.

O pavimento das estradas que não é tão mau quanto isso, mas as marcas rodoviárias que não são o forte das estradas tunisinas. A predominância de azul e branco nas casas, os letreiros muito rudimentares e manufacturados, a quantidade astronómica de oliveiras e as parecenças da paisagem com o nosso bem português Alentejo. A loucura nas manobras de muitos condutores tunisinos.

As inevitáveis conversas e perguntas de parte a parte sobre Portugal e Tunísia.

"Que regime político têm aqui na Tunísia?" / - Bem, isto é uma democracia, mas o Presidente é eleito com 90 e tal por cento dos votos desde 1987. 
Aqui fica esta frase esclarecedora dita num tom compenetrado e receoso. Contudo as expressões dos tunisinos presentes não aparentavam deixar dúvidas: eram contra o regime. Seguiu-se uma breve lição de história de Portugal, nomeadamente sobre os quarenta e oito anos do Estado Novo e o 25 de Abril de 1974. Ainda hoje acho que o rapaz ficou a pensar "Quarenta e oito? Será quem também vou ter que viver mais uns 25 anos em ditadura?".

Uma semana na Tunísia pré-Revolução do Jasmim


 A minha primeira semana de Agosto de 2010 foi passada na Tunísia, a nação que encontrou no início deste ano o caminho da libertação do regime ditatorial de Zine El Abidine Ben Ali. Esta viagem foi feita no âmbito da participação do Grupo de Fado Académico da Universidade do Porto - OUP nos Rencontres Cinématographiques de Hergla, pequena localidade situada a cerca de 135km a Sul de Tunis, capital do país. Neste evento cinematográfico houve uma noite de homenagem ao cinema português, nomeadamente ao filme  clássico "Aniki Bobó", de Manoel de Oliveira, e à galardoada curta-metragem "Arena", de João Salaviza (Palma de Ouro em Cannes - 2009).

Seguem-se alguns posts com apontamentos de situações vividas e observadas na Tunísia, no país que agora enfrenta a reestruturação pós-abdicação de Ben Ali.

O Regresso

Após uma pausa de aproximadamente um ano e dois meses, retomo as lides da blogosfera neste espaço.

Durante este interregno várias coisas aconteceram, logicamente, na minha vida. Novas experiências e realizações pessoais, familiares, artísticas e académicas surgiram na minha rotina e sinto que cresci. Física e/ou mentalmente, cresci. Positiva e/ou negativamente, cresci. E assim aqui estou, pronto para mais um episódio da minha intervenção blogosférica.

Hoje é dia 31 de Janeiro de 2011, dia em que se assinala o 120.º aniversário da Revolução de 31 de Janeiro de 1891, ocorrida na cidade do Porto, onde me encontro, actualmente, na maior parte do tempo. Ainda que tenha sido uma revolução sem sucesso consumado, foi um dos motes para a revolução de 5 de Outubro de 1910. Nesta efeméride, regresso a este espaço online de liberdade de expressão e pensamento.

Contando com a vossa atenção, respeito e participação, quero fazer-vos chegar um vasto leque de temáticas.

Acompanhem-me, novamente, nesta viagem. Comecemos, novamente, com um único passo.

Creiam-me disponível e, se acharem por bem, utilizem as novas formas de partilha deste blogue nas redes sociais. Podem fazê-lo através da barra inferior de cada post se quiserem divulgar uma publicação em particular, ou através da barra lateral, no caso de pretenderem divulgar a hiperligação geral do "Circunvagante".

Até já!