segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma Semana na Tunísia pré-Revolução do Jasmim 01

O primeiro episódio da viagem para a Tunísia ocorreu ainda no Aeroporto da Portela, quando houve um encontro e conversa com o deputado e presidente do CDS-PP, Paulo Portas, que também viajaria para terras tunisinas e que fez questão de contar alguns episódios das suas frequentes viagens até ao dito país norte-africano. E logo aqui se nota o que pensa Paulo Portas sobre o apelo de Cavaco Silva para que os portugueses passem férias em solo português [feito em Junho de 2005].

A viagem decorreu sem sobressalto na companhia aérea Tunisair. O processo de entrada oficial no país foi moroso dada a burocracia de carimbagem do passaporte, acto encarado com extremo mau humor e desconfiança por parte da generalidade dos oficiais fronteiriços. As questões "quem são vocês e o que fazem aqui assim vestidos?" [não esquecer o traje académico em pleno Agosto num país africano] eram inevitáveis.

Depois a passagem pela casa de câmbio em que o conceito "fila" em tunisino não parecia existir. Também a sensação de ser o centro das atenções por vestir um fato preto estranho com uma capa ao ombro e ter Euros para trocar. Também a sensação de olhar para a maioria das pessoas locais e ver os trajes tipicamente árabes.

Seguia-se o primeiro contacto com um espaço exterior africano e o com o "bafo" estival da África Mediterrânica. A viagem de mini-bus desde o Aeroporto de Tunis-Cartago até Hergla, com passagem por alguns locais da cidade de Tunis, as centenas de fotografias de Ben Ali espalhadas por todo o lado, o primeiro contacto com os jovens tunisinos que nos acompanhavam na viagem. A percepção de pobreza, classe "média" e riqueza e todos os contrastes sociais, nomeadamente nos edifícios. Os indícios de ocidentalização em termos de marcas e publicidade, a predominância de carros de marca francesa, a audição de francês e árabe na mesma medida e a alternância entre as duas línguas numa mesma conversa.

O pavimento das estradas que não é tão mau quanto isso, mas as marcas rodoviárias que não são o forte das estradas tunisinas. A predominância de azul e branco nas casas, os letreiros muito rudimentares e manufacturados, a quantidade astronómica de oliveiras e as parecenças da paisagem com o nosso bem português Alentejo. A loucura nas manobras de muitos condutores tunisinos.

As inevitáveis conversas e perguntas de parte a parte sobre Portugal e Tunísia.

"Que regime político têm aqui na Tunísia?" / - Bem, isto é uma democracia, mas o Presidente é eleito com 90 e tal por cento dos votos desde 1987. 
Aqui fica esta frase esclarecedora dita num tom compenetrado e receoso. Contudo as expressões dos tunisinos presentes não aparentavam deixar dúvidas: eram contra o regime. Seguiu-se uma breve lição de história de Portugal, nomeadamente sobre os quarenta e oito anos do Estado Novo e o 25 de Abril de 1974. Ainda hoje acho que o rapaz ficou a pensar "Quarenta e oito? Será quem também vou ter que viver mais uns 25 anos em ditadura?".

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